
10 erros que todo viajante iniciante comete (e como evitar)
Planejar a primeira grande viagem é uma mistura de euforia e pânico. Você sonha com as paisagens, as comidas e as fotos incríveis, mas também é bombardeado por dúvidas: “Estou esquecendo algo? E se der errado? E se eu perder dinheiro?”.
A verdade é que todo viajante experiente que você admira hoje já foi um iniciante. E sim, eles provavelmente cometeram alguns (ou todos) os erros desta lista.
Viajar é a melhor escola do mundo, e os erros são, muitas vezes, as lições mais duradouras. No entanto, você não precisa aprender da maneira mais difícil. Alguns tropeços clássicos de iniciantes podem ser facilmente evitados com um pouco de planejamento, transformando o que seria uma dor de cabeça em uma viagem tranquila e memorável.
Este guia detalhado não é apenas uma lista; é um manual de sobrevivência para sua primeira (ou segunda, ou terceira) grande aventura. Vamos desmistificar os 10 erros mais comuns que quase todo viajante iniciante comete e, o mais importante, mostrar o passo a passo exato de como evitá-los.
Erro 1: Montar uma “Mala-Mudança” (O Excesso de Bagagem e Seus Custos Ocultos)

O primeiro impulso de um viajante inexperiente é o “e se…”. “E se fizer frio em pleno verão?”, “E se eu quiser usar esse sapato de salto na praia?”, “E se eu precisar de sete opções de casaco?”. O resultado é uma mala de 23kg (ou mais) para uma viagem de 10 dias.
Por que é um erro: Uma mala pesada é seu maior inimigo.
- Taxas de Excesso: As companhias aéreas, especialmente as low cost (baixo custo), ganham rios de dinheiro com taxas de bagagem. O que você economizou na passagem, você paga em dobro no check-in.
 - Mobilidade Nula: Tente arrastar uma mala gigante pelas ruas de paralelepípedos de Roma ou subir três lances de escada no seu Airbnb em Paris. Você vai amaldiçoar cada item “extra” que colocou lá dentro.
 - Peso Morto: Estudos (e a experiência) mostram que usamos, em média, apenas 60% do que levamos na mala.
 
Como Evitar: Abrace o minimalismo. Viajar leve é sinônimo de liberdade.
- Faça um Checklist por Dias: Não jogue coisas na mala. Escreva o que você vai usar a cada dia. Você verá que muitas peças podem ser repetidas.
 - Aposte em Cores Neutras: Leve peças-base (calças, jaquetas) em cores neutras (preto, cinza, bege, jeans). Elas combinam com tudo e permitem criar looks diferentes apenas mudando uma blusa ou um acessório.
 - Use “Packing Cubes”: Esses organizadores de mala são revolucionários. Eles comprimem suas roupas e mantêm tudo separado (ex: um cubo para blusas, um para roupas íntimas).
 - A Regra do “Um Só”: Leve um tênis confortável (que você usará no voo), um sapato/sandália mais arrumado e um chinelo. Você não precisa de mais.
 - Pese em Casa: Compre uma balança de mão portátil. Pese sua mala antes de sair de casa para evitar surpresas no aeroporto.
 - Lembre-se: Você pode lavar roupa no destino (lavanderias, Airbnb) e, se realmente precisar de algo, pode comprar lá.
 
Erro 2: Ignorar a Burocracia (Passaportes, Vistos e Documentos Vencidos)
Este é o erro que pode acabar com sua viagem antes mesmo de ela começar. Você chega ao aeroporto, animado, e o agente de check-in diz: “Senhor(a), seu passaporte vence em cinco meses. Você não pode embarcar.”
Por que é um erro: Cada país tem suas regras de imigração, e “eu não sabia” não é uma desculpa válida. Você será barrado e perderá todo o dinheiro investido.
Como Evitar: A burocracia é a parte chata, mas é a fundação da sua viagem.
- A Regra dos 6 Meses do Passaporte: A maioria esmagadora dos países (incluindo toda a Europa e os EUA) exige que seu passaporte tenha, no mínimo, seis meses de validade a contar da data de saída do país, não de entrada. Se sua viagem termina em 30 de junho, seu passaporte deve ser válido até, pelo menos, 30 de dezembro.
 - Vistos são sua Responsabilidade: Não presuma que só porque você comprou a passagem, sua entrada é garantida.
- Estados Unidos: Requer visto (ex: B1/B2) que deve ser tirado com meses de antecedência.
 - Europa (Espaço Schengen): Brasileiros não precisam de visto para turismo por até 90 dias. (Atenção: A partir de 2025, será necessário o ETIAS, uma autorização eletrônica).
 - Canadá/Austrália: Requerem autorizações eletrônicas (eTA ou eVisitor) que são mais simples, mas obrigatórias.
 
 - Vacinas: Verifique se seu destino exige o Certificado Internacional de Vacinação contra a Febre Amarela (ex: Tailândia, Colômbia, Austrália).
 - Digitalize Tudo: Tire fotos e digitalize (Google Drive, Dropbox) seu passaporte, vistos, passagens, reservas de hotel e apólice de seguro. Se você perder os originais, ter uma cópia digital salva vidas.
 
Erro 3: Acreditar no “Isso Nunca Vai Acontecer Comigo” (Viajar sem Seguro Viagem)

“Eu sou saudável, não vou ficar doente.” “Eu sou cuidadoso, não vou ser roubado.” “É só uma viagem curta.” Este é, financeiramente, o erro mais perigoso da lista.
Por que é um erro: Um imprevisto em casa já é ruim. Um imprevisto a milhares de quilômetros de distância, em outra língua, é um pesadelo. O seguro viagem não é um “gasto”, é o investimento com o melhor custo-benefício que você fará.
- Custos Médicos Exorbitantes: Você sabia que uma simples crise de apendicite nos Estados Unidos pode custar mais de 50 mil dólares? Um braço quebrado na Suíça? Facilmente 20 mil euros. Seu plano de saúde brasileiro não cobre isso.
 - Obrigatoriedade: Para entrar nos países do Espaço Schengen (França, Itália, Alemanha, etc.), você é obrigado a ter um seguro com cobertura mínima de 30.000 euros.
 - Não é Só Saúde: O seguro viagem cobre muito mais:
- Extravio de Bagagem: Compensação financeira se sua mala for perdida.
 - Cancelamento de Voo: Reembolso por despesas com hotel/alimentação.
 - Repatriação: Custo de um voo especial (UTI aérea) de volta para casa, que pode custar centenas de milhares de reais.
 
 
Como Evitar:
- Contrate Sempre: Para qualquer viagem internacional, sem exceção. O custo de um seguro para 10 dias é irrisório perto do custo de um único atendimento médico.
 - Cuidado com o “Seguro do Cartão”: Muitos cartões de crédito (Platinum/Black) oferecem seguro “gratuito”, mas ele tem regras. 1) Você precisa ter comprado a passagem aérea com aquele cartão. 2) A cobertura médica (DMH) é suficiente para seu destino? (Para os EUA, 60 mil dólares pode ser pouco). 3) É por assistência (eles pagam direto) ou reembolso (você paga e pede o dinheiro depois)? Leia a apólice.
 
Erro 4: Criar um Roteiro “Militar” (Planejar Cada Segundo e Esquecer de Viver)
O viajante iniciante, ansioso para aproveitar tudo, abre uma planilha e planeja: 9h00 – Museu. 10h30 – Troca da Guarda. 11h15 – Praça Tal. 12h00 – Almoço (no restaurante X). O resultado? Exaustão e frustração.
Por que é um erro: Viagens não são planilhas. O metrô vai atrasar, vai chover no dia do parque, você vai descobrir uma rua charmosa e não vai poder explorá-la porque seu “cronograma” não permite. Você vira um escravo do seu próprio roteiro.
Como Evitar: Planeje o essencial, mas deixe espaço para o acaso.
- A Regra do 1-2 “Must-Dos”: Para cada dia, defina uma ou duas atrações principais que você realmente não quer perder (ex: Torre Eiffel de manhã, Museu do Louvre à tarde).
 - Agrupe por Região: Planeje seu dia por bairros. Se vai visitar o Coliseu (Roma) de manhã, planeje ver o Fórum Romano (que é ao lado) na sequência. Não planeje ir do Coliseu para o Vaticano (outro lado da cidade) e voltar.
 - Deixe “Tempo de Respiro”: Deixe tardes livres. O melhor da viagem é, muitas vezes, o inesperado: sentar em um café e observar as pessoas, entrar em uma loja aleatória, ou simplesmente se perder (de propósito).
 - Imprevistos Acontecem: Assuma que coisas darão errado. Com tempo livre no roteiro, um atraso não estraga seu dia; ele apenas “remaneja” seu tempo livre.
 
Erro 5: Esquecer que Você é o Visitante (Não Pesquisar a Cultura e Costumes Locais)
Achar que o mundo inteiro funciona como a sua casa é a receita para o desastre cultural. Desde usar a roupa errada em um templo até tentar dar gorjeta em um país onde isso é ofensa.
Por que é um erro: Além de ser desrespeitoso, ignorar costumes locais pode colocá-lo em situações embaraçosas ou até mesmo ilegais. Você pode ofender alguém sem querer ou ser vítima de golpes que miram em turistas desavisados.
Como Evitar: 10 minutos de Google podem salvar sua viagem.
- Vestimenta (Dress Code): Vai visitar templos na Tailândia ou igrejas na Itália (como o Vaticano)? Ombros e joelhos devem estar cobertos. Tenha sempre um lenço (echarpe) na mochila para cobrir os ombros.
 - Gorjetas (Tipping): Pesquise! Nos EUA, 18-20% é esperado em restaurantes. No Japão, dar gorjeta é considerado rude, pois o serviço “perfeito” já está incluído.
 - Gestos e Cumprimentos: Um sinal de “OK” com a mão, que é inofensivo no Brasil, pode ser um gesto obsceno em outros países (como na Turquia).
 - Aprenda o Básico do Idioma: Você não precisa ser fluente, mas aprender cinco palavras mágicas abre portas: “Olá”, “Por favor”, “Obrigado”, “Desculpe” e “Quanto custa?”. Demonstra respeito.
 - Pesquise Golpes Comuns: Todo grande destino turístico tem seus golpes. O “golpe da pulseirinha” em Paris, o “taxímetro quebrado” em Praga. Saiba quais são para identificá-los de longe.
 
Erro 6: Apostar Tudo em um Único Cartão (A Falta de Planejamento Financeiro)

Você viaja com seu cartão de crédito principal e um pouco de dinheiro. No segundo dia, o banco bloqueia seu cartão por “atividade suspeita”. Ou, pior, você é furtado e perde sua carteira. E agora?
Por que é um erro: Depender de uma única fonte de dinheiro é o maior risco financeiro da sua viagem. Se ela falhar, você fica literalmente sem nada, em outro país.
Como Evitar: A palavra-chave é diversificação. Nunca coloque todos os seus ovos financeiros na mesma cesta.
- Leve Múltiplos Métodos: O ideal é um mix de quatro coisas:
- Cartão de Crédito 1 (Principal): Para gastos maiores (hotel, aluguel de carro).
 - Cartão de Crédito 2 (Backup): De outro banco, guardado em um local separado (ex: no cofre do hotel).
 - Cartão de Débito Global (Wise, Nomad, etc.): Essencial hoje. Você carrega em reais, converte para dólar/euro com câmbio melhor e usa no débito.
 - Dinheiro em Espécie (Cash): O suficiente para pequenas despesas (transporte, gorjetas, feiras) dos primeiros 1-2 dias.
 
 - Aviso Viagem: Sempre informe seu(s) banco(s) sobre as datas e destinos da sua viagem. Isso evita bloqueios automáticos.
 - Câmbio no Lugar Certo: Nunca, jamais, troque dinheiro no aeroporto (nem no do Brasil, nem no de chegada). As taxas são as piores possíveis. Troque o mínimo necessário e busque casas de câmbio no centro da cidade.
 
Erro 7: O “Desespero no Desembarque” (Não Planejar Como Sair do Aeroporto)
Você desembarca após 12 horas de voo, cansado, confuso com o idioma e sem internet. Você sai no saguão de desembarque e é cercado por motoristas de táxi oferecendo corridas por preços absurdos.
Por que é um erro: O momento da chegada é quando você está mais vulnerável. Cansado e desorientado, você é o alvo perfeito para taxistas que cobram 5x o valor correto ou para pegar o transporte errado e se perder.
Como Evitar: Tenha o “Plano de Chegada” definido antes de embarcar.
- Pesquise o Trajeto: Use o Google Maps (em casa) para ver a distância e as opções do seu aeroporto (ex: “Aeroporto JFK para Manhattan”).
 - Transporte Público: É quase sempre a opção mais barata. Verifique se há um trem ou metrô direto do aeroporto para o centro da cidade.
 - Apps de Transporte (Uber, etc.): Verifique se o Uber funciona lá ou qual é o app local (ex: Grab no Sudeste Asiático, Bolt na Europa). Os aeroportos têm áreas designadas para eles.
 - Táxi Oficial: Se for pegar táxi, ignore os motoristas que te abordam no saguão. Vá para a fila oficial de táxis fora do terminal.
 - Google Maps Offline: Antes de viajar, baixe o mapa da sua cidade de destino no Google Maps. Assim, mesmo sem internet, seu GPS funcionará e você poderá acompanhar o trajeto.
 
Erro 8: Escolher Hotel Apenas pelo Preço (Ignorar a Importância da Localização)
Você encontra uma oferta “imperdível”: um hotel 40% mais barato que os outros. Você reserva e, ao chegar lá, descobre que ele fica a uma hora de metrô (com duas baldeações) de todas as atrações.
Por que é um erro: O que você economiza na diária, você gasta em dobro em tempo e dinheiro de transporte. Ficar mal localizado suga sua energia, limita suas noites (pois é complicado voltar tarde) e estraga a experiência da viagem.
Como Evitar: Localização é tudo. Pague um pouco mais caro para estar “onde as coisas acontecem”.
- Leia as Avaliações com Foco na Localização: Ao ler reviews no Booking.com ou Hostelworld, filtre pelos comentários que mencionam “localização”, “transporte” e “segurança”.
 - Use o “Street View”: Antes de reservar, jogue o endereço do hotel no Google Street View. Dê uma “volta” virtual pelo bairro. Parece seguro? Tem restaurantes? Uma estação de metrô?
 - O “Custo-Benefício” Real: Um hotel R$ 100 mais caro por noite, mas que fica a 10 minutos a pé de tudo, economiza R$ 40 por dia de metrô/Uber e, o mais importante, 2 horas do seu precioso tempo.
 
Erro 9: Confiar no Wi-Fi Gratuito (O Pesadelo da Fatura de Roaming e Ficar Offline)
O viajante iniciante pensa: “Não vou comprar chip, vou usar o Wi-Fi do hotel e dos cafés”. Então, ele se perde no meio da rua, precisa chamar um Uber e não tem internet. Ou, pior, esquece o roaming de dados ligado.
Por que é um erro: Depender de Wi-Fi gratuito é uma prisão. Você fica “caçando” sinal. Além disso, o roaming internacional da sua operadora brasileira pode gerar uma fatura de milhares de reais por poucos minutos de uso.
Como Evitar: Esteja conectado. É uma questão de segurança e praticidade.
- A Era do eSIM (Chip Virtual): A melhor solução hoje. Antes de viajar, você compra um plano de dados de empresas como Airalo ou Holafly. Você instala o “chip” virtualmente no seu celular e, assim que o avião pousa, você já tem internet 5G.
 - Chip Local: Se seu celular não aceita eSIM, compre um chip pré-pago (SIM card) no aeroporto ou na primeira loja de conveniência que encontrar no destino. É barato e eficaz.
 - Desligue o Roaming: Antes de o avião decolar, coloque seu celular em Modo Avião. Ao pousar, vá nas configurações e desative manualmente o “Roaming de Dados” do seu chip brasileiro para evitar surpresas.
 
Erro 10: Sofrer da Síndrome de “FOMO” (Tentar Conhecer Tudo de Uma Só Vez)

FOMO, ou “Fear Of Missing Out” (Medo de Ficar de Fora), é a doença do viajante moderno. É a ansiedade de ter que ver todos os pontos turísticos que apareceram no seu Instagram. O resultado é o roteiro “5 países em 10 dias”.
Por que é um erro: Você passa mais tempo em aeroportos e trens do que nos destinos. Você vê tudo pela lente da câmera, mas não experimenta nada. É uma corrida contra o tempo que só gera exaustão e fotos borradas. Isso não é viajar, é cumprir uma gincana.
Como Evitar: Adote o “Slow Travel” (Viagem Lenta).
- Qualidade acima de Quantidade: É infinitamente melhor passar 7 dias explorando Roma e seus bairros do que passar 2 dias em Roma, 2 em Florença e 2 em Veneza.
 - Aceite que Você Não Vai Ver Tudo: E está tudo bem! Viagem não é sobre “ticar” itens de uma lista. É sobre a experiência.
 - Permita-se o Tédio: Os melhores momentos da viagem são, muitas vezes, os não planejados. Aquele dia em que você decidiu não fazer nada além de sentar em um parque e ler um livro.
 - Deixe Motivos para Voltar: Não viu o museu X? Ótimo. Agora você tem uma desculpa perfeita para planejar sua próxima viagem àquele destino.
 
Abrace a Jornada, Errar Faz Parte (Mas Evitar é Melhor)
Viajar pela primeira vez é intimidador, mas não precisa ser complicado. A maioria dos erros que transformam uma viagem dos sonhos em um pesadelo logístico nasce da falta de planejamento ou da ansiedade de querer “fazer tudo certo”.
Ao evitar essas 10 armadilhas clássicas — fazendo uma mala inteligente, cuidando dos seus documentos, investindo em seguro, sendo flexível com seu roteiro e, acima de tudo, respeitando seu próprio ritmo — você já estará viajando melhor que 90% dos turistas.
Lembre-se: o objetivo final de uma viagem não é uma foto perfeita ou um checklist completo. É voltar para casa com boas histórias, uma nova perspectiva e a vontade imediata de planejar a próxima.
